segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Argumentos Religiosos: Desenvolvimento Cultural

Um popular argumento dos religiosos é o de que podemos agradecer à religião por nos ter proporcionado inspiração artística e criado algumas das primeiras universidades, tornando assim a religião essencial ao nosso desenvolvimento cultural. 
Eu concordo que muitas obras de arte foram religiosamente inspiradas (a Capela Sistina, por exemplo) e que algumas universidades foram criadas pelo clero, mas este argumento tem demasiadas incongruências para ser seriamente considerado: 

- Na melhor das hipóteses, este argumento discute a utilidade da religião, mas não nos diz nada sobre Deus ou como podemos provar a sua existência. 

- Todas as diferentes religiões foram culturalmente significativas para alguns povos e países. Quando este argumento é apresentado, é normalmente para defender a religião dessa pessoa (os Cristãos são os que mais o usam), mas não justifica porque alguém haveria de abraçar uma religião e rejeitar todas as outras.  

- De que serve congratular-se por ter criado universidades há séculos atrás quando, durante pelo menos algum tempo, os académicos e cientistas estavam proibidos de explorar e questionar livremente o mundo por medo de serem condenados por heresia.
(Só podemos especular o quanto esta situação atrasou o nosso desenvolvimento. Por exemplo, parece incrível que até 1880 (aprox.) muitos geólogos ainda atribuíam, pelo menos publicamente, os depósitos do Plistocénico (menos de 2 milhões de anos atrás) à inundação bíblica.)        

- Então e todo o outro património cultural e artístico que os missionários destruíram quando chegaram a novos continentes? Tradições e artes nativas foram eliminadas por serem "símbolos pagãos" até para lá de 1960. 
(A este respeito, veja-se o relato de Jared Diamond no seu livro Collapse: How Societies Choose to Fail or Survive, sobre como em 1965 numa aldeia da Papua Nova Guiné chamada Bomai, o missionário cristão para ali enviado se gabou com orgulho de ter convencido os seus "novos convertidos" a reunir todos os seus "artefactos pagãos" para os queimar.)   

Termino citando Sam Harris (The End of Faith): 
"É um truismo dizer que as pessoas de fé criaram quase tudo o que existe de valioso no mundo, pois quase todas as pessoas que alguma vez pegaram num martelo foram membros devotos de uma qualquer cultura religiosa. Não havia simplesmente mais ninguém para dar conta do recado. Também podemos dizer que todos os feitos humanos anteriores ao século XX foram realizados por pessoas que ignoravam por completo a base molecular da vida. Significa isto que valeria a pena manter a concepção da biologia do século XIX? 
O facto da fé religiosa ter deixado a sua marca em todos os aspectos da nossa civilização não é um argumento a seu favor. Da mesma forma, nenhuma religião em particular pode ser absolvida pelo simples facto de alguns dos seus seguidores terem dado contributos fundamentais para a cultura humana."