Excerto da obra Avareza de Emiliano Fittipaldi de um dos muitos episódios chocantes de corrupção perpetrados pela Igreja Católica com dinheiros públicos (pp. 247-249):
"Em 2001 decidem (a cúria de Salerno) que chegou o momento de restaurar edifícios ruinosos e velhas estruturas desabitadas e participam num concurso regional. Um acordo com o qual o Estado italiano financiava com dinheiros públicos obras «para a promoção da oferta social nas áreas degradadas, a melhoria da qualidade urbana ou a recuperação e requalificação do património histórico cultural.»
O monsenhor Pierro escreve na demanda que o beneficiário dos trabalhos seria «toda a colectividade» e pede 2,3 milhões de euros. A Região acredita no projecto dos padres e fornece o dinheiro. (...) 2008, quando os técnicos vão controlar o estado da obra da Aldeia da Criança, para os meninos pobres, nem acreditam no que vêem: «a diocese», escreveram num relatório técnico, «em vez da prevista estrutura ao serviço da colectividade, realizou uma estrutura hoteleira.»
(...) a igreja, de entre os oitenta participantes no concurso, «foi a única que se moveu numa dimensão estritamente privada.» (...) «de maneira irrefutável o uso de expressões ambivalentes tendentes a omitir a real finalidade, como o termo "acolhimento" que, referido à "colónia", dava a entender acolhimento caritativo e esboçava uma obra destinada ao serviço social, além do facto de nenhum acto ou documento da diocese alguma vez fazer referência ao verdadeiro destino da obra.»
O monsenhor Pierro, segundo o tribunal, estava «bem consciente da ambiguidade lexical» utilizada para enganar os técnicos regionais que atribuíram o dinheiro...
(...)
Não obstante o escândalo, o ex-arcebispo permaneceu no cargo até à reforma. (...) Em 2010 alguém ergueu uma estátua de quatro metros de altura figurando o próprio Pierro no jardim do seminário. «Ao monsenhor Gerardo Pierro, arcebispo, ao cumprir-se o seu 75.º aniversário com viva gratidão, a arquidiocese erigiu.»