terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Astrologia: antiga oposição

A astrologia é uma tendência com séculos, ou, se considerarmos apenas a noção dos astros terem influência na vida das pessoas (e não me refiro, obviamente, à energia solar ou à força gravitacional da Lua) terá mesmo milénios. 
Com o incrível avançar da ciência e tecnologia ao longo dos últimos 500 anos a nossa compreensão de como o mundo funciona alterou-se profundamente. E, ainda assim, os defensores da astrologia aí estão, aparentemente não muito enfraquecidos, e para ficar. Poderia considerar-se natural que o actual cepticismo científico em relação à astrologia fosse uma resposta da modernidade às crenças ultrapassadas da idade média. Mas a verdade é que sempre houve cépticos, até quando a ciência não fornecia as tão ansiadas respostas que a astrologia parecia dar. 
É verdade tratar-se de uma personagem fictícia de uma peça, mas a maneira como Edmund da obra Rei Lear (1605) de William Shakespeare ataca a astrologia denota uma argumentação madura e racional que, com certeza, teria encontrado paralelo no mundo real do tempo de Shakespeare: 

"É esta a esplêndida loucura do mundo: quando sofremos as consequências dos nossos excessos, atribuímos a culpa ao Sol, à Lua, às estrelas, como se os astros fossem responsáveis pelas nossas loucuras; como se os céus nos obrigassem a sermos patifes, ladrões e traidores; como se a conjunção dos planetas fizesse de nós bêbedos, mentirosos e adúlteros; como se todos os males que sobre nós se abatem fossem uma maldição dos deuses. Que estupenda evasão, acusar as estrelas dos nossos costumes dissolutos! Fui concebido sob a cauda do Dragão e vim ao mundo sob a Ursa Maior, sou portanto violento e devasso! Que absurdo! Teria sido o que sou mesmo que a estrela mais benfazeja tivesse brilhado no firmamento no momento da minha concepção."

- William Shakespeare, "Rei Lear" (1605), Acto 1, Cena 2. Publicações Europa-América (2002), tradução de Margarida Prates   

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