Um popular argumento dos religiosos é o de que podemos agradecer à religião por nos ter proporcionado inspiração artística e criado algumas das primeiras universidades, tornando assim a religião essencial ao nosso desenvolvimento cultural.
Eu concordo que muitas obras de arte foram religiosamente inspiradas (a Capela Sistina, por exemplo) e que algumas universidades foram criadas pelo clero, mas este argumento tem demasiadas incongruências para ser seriamente considerado:
- Na melhor das hipóteses, este argumento discute a utilidade da religião, mas não nos diz nada sobre Deus ou como podemos provar a sua existência.
- Todas as diferentes religiões foram culturalmente significativas para alguns povos e países. Quando este argumento é apresentado, é normalmente para defender a religião dessa pessoa (os Cristãos são os que mais o usam), mas não justifica porque alguém haveria de abraçar uma religião e rejeitar todas as outras.
- De que serve congratular-se por ter criado universidades há séculos atrás quando, durante pelo menos algum tempo, os académicos e cientistas estavam proibidos de explorar e questionar livremente o mundo por medo de serem condenados por heresia.
(Só podemos especular o quanto esta situação atrasou o nosso desenvolvimento. Por exemplo, parece incrível que até 1880 (aprox.) muitos geólogos ainda atribuíam, pelo menos publicamente, os depósitos do Plistocénico (menos de 2 milhões de anos atrás) à inundação bíblica.)
- Então e todo o outro património cultural e artístico que os missionários destruíram quando chegaram a novos continentes? Tradições e artes nativas foram eliminadas por serem "símbolos pagãos" até para lá de 1960.
(A este respeito, veja-se o relato de Jared Diamond no seu livro Collapse: How Societies Choose to Fail or Survive, sobre como em 1965 numa aldeia da Papua Nova Guiné chamada Bomai, o missionário cristão para ali enviado se gabou com orgulho de ter convencido os seus "novos convertidos" a reunir todos os seus "artefactos pagãos" para os queimar.)
Termino citando Sam Harris (The End of Faith):
"É um truismo dizer que as pessoas de fé criaram quase tudo o que existe de valioso no mundo, pois quase todas as pessoas que alguma vez pegaram num martelo foram membros devotos de uma qualquer cultura religiosa. Não havia simplesmente mais ninguém para dar conta do recado. Também podemos dizer que todos os feitos humanos anteriores ao século XX foram realizados por pessoas que ignoravam por completo a base molecular da vida. Significa isto que valeria a pena manter a concepção da biologia do século XIX?
O facto da fé religiosa ter deixado a sua marca em todos os aspectos da nossa civilização não é um argumento a seu favor. Da mesma forma, nenhuma religião em particular pode ser absolvida pelo simples facto de alguns dos seus seguidores terem dado contributos fundamentais para a cultura humana."
"A descoberta consiste em ver o que todos viram e em pensar o que ninguém pensou."
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
sábado, 20 de agosto de 2016
Citações 1
"Nós somos vida das gentes e morte de nossas vidas."
(Gil Vicente, Auto da Barca do Purgatório)
"Quanto mais alto é o estado, tanto mais se é obrigado a todos dar bom exemplo, (...) para todos manso e humano. (...) Antes morto que tirano, antes pobre que mundano, como foi vossa pessoa."
(Gil Vicente, Auto da Barca da Glória, O Diabo ao Papa)
"Mestre...depois de pai, é o nome mais nobre e mais doce que um homem pode dar a outro."
(Edmundo de Amicis, Coração)
"Na pobreza ainda conservamos a dignidade dos nossos sentimentos inatos, mas na miséria nunca, nem ninguém. Na miséria não nos correm com um pau, varrem-nos à vassourada da companhia humana, para que seja ainda mais insultuoso; e é justo, já que na miséria eu estou pronto a ser o primeiro a insultar-me a mim próprio."
(Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo)
"As almas, por maiores que sejam, são capazes dos maiores vícios, assim como das maiores virtudes, e aqueles que caminham muito lentamente podem ir mais longe, se seguirem sempre o caminho direito, do que aqueles que correm e dele se desviam."
(René Descartes, Discurso do Método)
"Talvez a infelicidade seja o continuum no qual se move a vida humana, e a alegria apenas uma série de clarões, de ilhas no meio da corrente. Ou, senão infelicidade, pelo menos a melancolia..."
(Salman Rushdie, Os Versículos Satânicos)
"As pessoas cultas reconhecem o absurdo desta doutrina que, por condescendência com a gente simples, continuam a aplicar."
(Jonathan Swift, As Viagens de Gulliver)
"Pode tolerar-se que alguém guarde veneno em casa, mas não que o venda como remédio."
(Jonathan Swift, As Viagens de Gulliver)
"Em nenhum caso de simples preconceitos, pró ou contra, podemos deduzir inferências com absoluta certeza, mesmo a partir dos dados mais simples."
(Edgar Allan Poe, Narrativa de A. Gordon Pym)
"Sofremos muitas vezes bastante, para termos o direito de nunca dizer: sou demasiadamente feliz."
(Alexandre Dumas, A Túlipa Negra)
(Gil Vicente, Auto da Barca do Purgatório)
"Quanto mais alto é o estado, tanto mais se é obrigado a todos dar bom exemplo, (...) para todos manso e humano. (...) Antes morto que tirano, antes pobre que mundano, como foi vossa pessoa."
(Gil Vicente, Auto da Barca da Glória, O Diabo ao Papa)
"Mestre...depois de pai, é o nome mais nobre e mais doce que um homem pode dar a outro."
(Edmundo de Amicis, Coração)
"Na pobreza ainda conservamos a dignidade dos nossos sentimentos inatos, mas na miséria nunca, nem ninguém. Na miséria não nos correm com um pau, varrem-nos à vassourada da companhia humana, para que seja ainda mais insultuoso; e é justo, já que na miséria eu estou pronto a ser o primeiro a insultar-me a mim próprio."
(Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo)
"As almas, por maiores que sejam, são capazes dos maiores vícios, assim como das maiores virtudes, e aqueles que caminham muito lentamente podem ir mais longe, se seguirem sempre o caminho direito, do que aqueles que correm e dele se desviam."
(René Descartes, Discurso do Método)
"Talvez a infelicidade seja o continuum no qual se move a vida humana, e a alegria apenas uma série de clarões, de ilhas no meio da corrente. Ou, senão infelicidade, pelo menos a melancolia..."
(Salman Rushdie, Os Versículos Satânicos)
"As pessoas cultas reconhecem o absurdo desta doutrina que, por condescendência com a gente simples, continuam a aplicar."
(Jonathan Swift, As Viagens de Gulliver)
"Pode tolerar-se que alguém guarde veneno em casa, mas não que o venda como remédio."
(Jonathan Swift, As Viagens de Gulliver)
"Em nenhum caso de simples preconceitos, pró ou contra, podemos deduzir inferências com absoluta certeza, mesmo a partir dos dados mais simples."
(Edgar Allan Poe, Narrativa de A. Gordon Pym)
"Sofremos muitas vezes bastante, para termos o direito de nunca dizer: sou demasiadamente feliz."
(Alexandre Dumas, A Túlipa Negra)
Coisas que me irritam solenemente 1: Música alta em público
Com certeza já deve ter acontecido a toda a gente:
Vamos nós muito bem na nossa vida no comboio ou no autocarro e entra um gajo com o telemóvel a tocar musica brasileira com o volume no máximo. Longe de a desligar ou pelo menos baixar o som, dando de barato que talvez a tivesse alta porque o ruído de fundo na estação era muito e que agora que se encontrava num local fechado já não havia necessidade, o gajo até pousa o telemóvel no banco do lado com a coluna para o ar, esforçando-se ao máximo para que a cacofonia se espalhe pela carruagem/veículo.
Outra: Vamos a sair de casa às 8:00 da matina para ir para a escola, trabalho, etc. passa um gajo num Renault Clio todo quitado com as quatro janelas completamente abertas e a tocar Skrillex ou a banda sonora do Velocidade Furiosa no volume máximo.
Os indivíduos responsáveis são desde logo especiais! Pertencem a uma classe de burros que, não obstante conseguirem manusear um smartphone e pôr um carro a andar (note-se que não disse conduzir), nunca aprenderam a utilizar phones nos ouvidos.
Mas eu gosto de tentar pôr-me na cabeça das pessoas e imaginar o que elas estão a pensar. Neste caso, parecem-me existir apenas quatro possibilidades:
1 - Acham que o seu gosto musical é fantástico e que todos os presentes o reconhecem. Como tal, está a fazer um serviço público ao tornar uma viagem monótona e rotineira numa experiência muito mais agradável.
2 - Apetece-lhe ouvir a sua musica em altos berros e fá-lo. Nem se lhe ocorre que possa estar a incomodar os outros. É completamente inconsciente quanto à forma de se comportar em sociedade.
3 - Apetece-lhe ouvir a sua musica em altos berros e fá-lo. Apesar de saber que está a incomodar os outros, está-se a marimbar para eles. Deste podemos deduzir que se baldou às aulas de formação cívica na escola e/ou não as teve em casa.
4 - Estão zangados com a sociedade porque a sua namorada os deixou, o seu canário morreu, o seu clube perdeu ou o governo vai aumentar os impostos, etc. então, como vingança à sociedade, decide sacrificar os seus tímpanos para incomodar os restantes. Por razões óbvias, esta razão é a mais estúpida, e, diria eu, a mais improvável.
No caso do indivíduo do Renault Clio, podemos admitir uma quarta hipótese: ao quitar o seu veículo, instalou umas colunas novas que o enchem de orgulho e por isso faz questão de as mostrar a toda a gente que vai na rua, mesmo que isso signifique uma forte dor de cabeça por ir a ouvir música tão alto logo de manhã. A lógica é a mesma da de uma criança que tem um brinquedo novo e não consegue simplesmente apreciá-lo para si, tem de ir exibi-lo às outras crianças.
Vamos nós muito bem na nossa vida no comboio ou no autocarro e entra um gajo com o telemóvel a tocar musica brasileira com o volume no máximo. Longe de a desligar ou pelo menos baixar o som, dando de barato que talvez a tivesse alta porque o ruído de fundo na estação era muito e que agora que se encontrava num local fechado já não havia necessidade, o gajo até pousa o telemóvel no banco do lado com a coluna para o ar, esforçando-se ao máximo para que a cacofonia se espalhe pela carruagem/veículo.
Outra: Vamos a sair de casa às 8:00 da matina para ir para a escola, trabalho, etc. passa um gajo num Renault Clio todo quitado com as quatro janelas completamente abertas e a tocar Skrillex ou a banda sonora do Velocidade Furiosa no volume máximo.
Os indivíduos responsáveis são desde logo especiais! Pertencem a uma classe de burros que, não obstante conseguirem manusear um smartphone e pôr um carro a andar (note-se que não disse conduzir), nunca aprenderam a utilizar phones nos ouvidos.
Mas eu gosto de tentar pôr-me na cabeça das pessoas e imaginar o que elas estão a pensar. Neste caso, parecem-me existir apenas quatro possibilidades:
1 - Acham que o seu gosto musical é fantástico e que todos os presentes o reconhecem. Como tal, está a fazer um serviço público ao tornar uma viagem monótona e rotineira numa experiência muito mais agradável.
2 - Apetece-lhe ouvir a sua musica em altos berros e fá-lo. Nem se lhe ocorre que possa estar a incomodar os outros. É completamente inconsciente quanto à forma de se comportar em sociedade.
3 - Apetece-lhe ouvir a sua musica em altos berros e fá-lo. Apesar de saber que está a incomodar os outros, está-se a marimbar para eles. Deste podemos deduzir que se baldou às aulas de formação cívica na escola e/ou não as teve em casa.
4 - Estão zangados com a sociedade porque a sua namorada os deixou, o seu canário morreu, o seu clube perdeu ou o governo vai aumentar os impostos, etc. então, como vingança à sociedade, decide sacrificar os seus tímpanos para incomodar os restantes. Por razões óbvias, esta razão é a mais estúpida, e, diria eu, a mais improvável.
No caso do indivíduo do Renault Clio, podemos admitir uma quarta hipótese: ao quitar o seu veículo, instalou umas colunas novas que o enchem de orgulho e por isso faz questão de as mostrar a toda a gente que vai na rua, mesmo que isso signifique uma forte dor de cabeça por ir a ouvir música tão alto logo de manhã. A lógica é a mesma da de uma criança que tem um brinquedo novo e não consegue simplesmente apreciá-lo para si, tem de ir exibi-lo às outras crianças.
sexta-feira, 27 de maio de 2016
A Arte de Mal-editar
Recentemente terminei a leitura de uma colecção das mais famosas obras de Júlio Verne, por muitos considerado a pai da ficção científica. A colecção é composta por oito livros, numerados da seguinte forma:
1 - Cinco Semanas em Balão
2 - Volta ao Mundo em 80 Dias
3 - Da Terra à Lua
4 - Viagem ao Centro da Terra
5 - O Segredo da Ilha
6 - 20.000 Léguas Submarinas
7 - A Volta da Lua
8 - Os Náufragos do Ar
Todos os livros contam histórias de viagens extraordinárias e, gostando mais de uns que de outros, achei a experiência global muito satisfatória. Agora, não posso deixar de notar que quem de certeza não leu estas obras foram os responsáveis pela edição desta colecção! Até ao quarto livro vai tudo bem, mas daí para a frente a ordem está completamente errada.
O meu principal problema é com "O Segredo da Ilha" e "Os Náufragos do Ar".
No fundo, estes livros não existem, são ambos parte do mesmo livro, A Ilha Misteriosa, que, de resto, até surge acima do título na primeira página de ambos os livros, embora não seja indicado nem na capa nem na contracapa. Os editores decidiram separar a obra original, A Ilha Misteriosa, em dois volumes, cada um com o seu título inventado. Talvez o tenham feito para que todos os livros da colecção tivessem um tamanho semelhante, entre 200 a 300 páginas. Até aqui, nada a opor.
O meu problema é que no caso destas duas partes da história de "A Ilha Misteriosa", publicaram a segunda parte, ou seja a conclusão, antes da primeira parte. Para uma pessoa que não conheça a obra, como eu não conhecia, e leu primeiro "O Segredo da Ilha" antes de "Os Náufragos do Ar" levantam-se uma série de problemas.
Se se tratasse de uma prequela como O Hobbit em relação ao Senhor dos Anéis, ou os episódios I, II e III de Star Wars, não haveria problema nenhum em publicar primeiro a segunda parte, mas aqui não faz sentido.
Como os nomes "A Ilha Misteriosa" e "O Segredo da Ilha" indicam, a história revolve numa ilha que possui um segredo ou mistério que o leitor vai descobrir. A revelação é de facto curiosa e interessante mas surge no final do Segredo da Ilha. Qual é o interesse de ler os Náufragos do Ar quando já sabemos o segredo que está na alma da história? Só se for para conhecer melhor as personagens pois estas são-nos apresentadas muito melhor, como seria de esperar no principio de um livro. No Segredo da Ilha (N.º 5) praticamente não nos dizem quem são os protagonistas, simplesmente assumem que nós já sabemos como se tivéssemos lido os Náufragos do Ar (N.º 8). Isto já para não dizer que a história da Ilha Misteriosa cruza-se com a de 20.000 Léguas Submarinas e que por isso, também deveria ter sido publicada depois.
Mas afinal, qual foi a editora que publicou isto? Nada mais, nada menos que uma parceria entre o Montepio Geral e o Correio da Manhã! Porque não me surpreende que o CM tenha feito asneira?
Até consigo imaginar como é que um diálogo entre os responsáveis pode ter ocorrido:
- Eh, ó chefe, tive uma ideia para vendermos mais jornais. Vamos publicar uma colecção de livros de um autor famoso, tipo Júlio Verne.
- Boa ideia, então e já sabes quais vão ser os livros?
- Sim, só que há alguns problemas.
- Então?
- Há aqui dois ou três que são muito famosos que as pessoas vão querer e por isso há o risco de comprarem só esses em vez de fazerem a colecção.
- Oh, então mete um desses no início para aguçar o apetite (Volta ao Mundo em 80 Dias) e mete os outros lá mais pró meio e fim (20.000 Léguas Submarinas).
- Parece-me bem. Outra coisa, há aqui um que é bem maior que os outros. Não fica muito bem termos alguns que nem às 180 páginas chegam e depois outro com mais de 400.
- Opá, divide isso ao meio, inventa uns títulos intermédios e pronto.
- Ok.
E é isto. A colecção já tem mais de dez anos, não faz sentido refilar com ninguém agora, mas isto é algo a meu ver que demonstra incompetência ainda pior que quando a Editorial Presença publicou livros do Harry Potter em que num o título na lombada estava virado para a esquerda e noutro para a direita.
1 - Cinco Semanas em Balão
2 - Volta ao Mundo em 80 Dias
3 - Da Terra à Lua
4 - Viagem ao Centro da Terra
5 - O Segredo da Ilha
6 - 20.000 Léguas Submarinas
7 - A Volta da Lua
8 - Os Náufragos do Ar
Todos os livros contam histórias de viagens extraordinárias e, gostando mais de uns que de outros, achei a experiência global muito satisfatória. Agora, não posso deixar de notar que quem de certeza não leu estas obras foram os responsáveis pela edição desta colecção! Até ao quarto livro vai tudo bem, mas daí para a frente a ordem está completamente errada.
O meu principal problema é com "O Segredo da Ilha" e "Os Náufragos do Ar".
No fundo, estes livros não existem, são ambos parte do mesmo livro, A Ilha Misteriosa, que, de resto, até surge acima do título na primeira página de ambos os livros, embora não seja indicado nem na capa nem na contracapa. Os editores decidiram separar a obra original, A Ilha Misteriosa, em dois volumes, cada um com o seu título inventado. Talvez o tenham feito para que todos os livros da colecção tivessem um tamanho semelhante, entre 200 a 300 páginas. Até aqui, nada a opor.
O meu problema é que no caso destas duas partes da história de "A Ilha Misteriosa", publicaram a segunda parte, ou seja a conclusão, antes da primeira parte. Para uma pessoa que não conheça a obra, como eu não conhecia, e leu primeiro "O Segredo da Ilha" antes de "Os Náufragos do Ar" levantam-se uma série de problemas.
Se se tratasse de uma prequela como O Hobbit em relação ao Senhor dos Anéis, ou os episódios I, II e III de Star Wars, não haveria problema nenhum em publicar primeiro a segunda parte, mas aqui não faz sentido.
Como os nomes "A Ilha Misteriosa" e "O Segredo da Ilha" indicam, a história revolve numa ilha que possui um segredo ou mistério que o leitor vai descobrir. A revelação é de facto curiosa e interessante mas surge no final do Segredo da Ilha. Qual é o interesse de ler os Náufragos do Ar quando já sabemos o segredo que está na alma da história? Só se for para conhecer melhor as personagens pois estas são-nos apresentadas muito melhor, como seria de esperar no principio de um livro. No Segredo da Ilha (N.º 5) praticamente não nos dizem quem são os protagonistas, simplesmente assumem que nós já sabemos como se tivéssemos lido os Náufragos do Ar (N.º 8). Isto já para não dizer que a história da Ilha Misteriosa cruza-se com a de 20.000 Léguas Submarinas e que por isso, também deveria ter sido publicada depois.
Mas afinal, qual foi a editora que publicou isto? Nada mais, nada menos que uma parceria entre o Montepio Geral e o Correio da Manhã! Porque não me surpreende que o CM tenha feito asneira?
Até consigo imaginar como é que um diálogo entre os responsáveis pode ter ocorrido:
- Eh, ó chefe, tive uma ideia para vendermos mais jornais. Vamos publicar uma colecção de livros de um autor famoso, tipo Júlio Verne.
- Boa ideia, então e já sabes quais vão ser os livros?
- Sim, só que há alguns problemas.
- Então?
- Há aqui dois ou três que são muito famosos que as pessoas vão querer e por isso há o risco de comprarem só esses em vez de fazerem a colecção.
- Oh, então mete um desses no início para aguçar o apetite (Volta ao Mundo em 80 Dias) e mete os outros lá mais pró meio e fim (20.000 Léguas Submarinas).
- Parece-me bem. Outra coisa, há aqui um que é bem maior que os outros. Não fica muito bem termos alguns que nem às 180 páginas chegam e depois outro com mais de 400.
- Opá, divide isso ao meio, inventa uns títulos intermédios e pronto.
- Ok.
E é isto. A colecção já tem mais de dez anos, não faz sentido refilar com ninguém agora, mas isto é algo a meu ver que demonstra incompetência ainda pior que quando a Editorial Presença publicou livros do Harry Potter em que num o título na lombada estava virado para a esquerda e noutro para a direita.
sábado, 21 de maio de 2016
Fumar
Há algum tempo, numa aula de uma cadeira de Mestrado, falávamos sobre os efeitos da poluição atmosférica na saúde humana. Palavra puxa palavra e começámos a falar sobre tabagismo. Acontece que eu não fumo, mas o facto de nunca o ter experimentado nem me suscitar a mínima curiosidade parece ter sido encarado com estranheza por alguns dos meus colegas.
Podem acusar-me de tentar viver de uma forma demasiado racionalista, mas na minha forma de ver as coisas, nunca me passou pela cabeça experimentar fumar pelos seguintes motivos:
Supúnhamos que tenho curiosidade e experimento fumar. Um de dois cenários poderão ocorrer:
Primeiro cenário, não gosto da experiência e decido nunca mais o fazer. Aqui, não ganhei nem perdi nada, não me foi prejudicial, mas também, foi como se não tivesse experimentado.
Segundo cenário, gostei da experiência e gostaria de repetir. Daqui há duas vias por onde posso seguir:
1) Torno-me fumador. Ou seja, conscientemente optei por um vício que comprovadamente é prejudicial à saúde e longevidade, me custará imenso dinheiro que poderia investir noutras coisas e que será preciso uma imensa força de vontade e trabalho se alguma vez quiser quebrar o vício para voltar ao ponto onde estou agora mesmo (embora com pior saúde). Péssima opção.
2) Sabendo dos problemas associados, decido não fumar apesar de ter gostado. Agora viverei sempre com a tentação de voltar a fumar, nomeadamente quando estou rodeado de outros fumadores que não hesitariam em me oferecer um cigarro. Será uma espécie de martírio psicológico diário pois sei que gostaria de o fazer. Ter experimentado foi a acha na fogueira.
Não entendo as pessoas, especialmente os adolescentes, que alegam curiosidade para experimentarem quando sabem que é prejudicial à saúde. Os mais velhos ainda têm a desculpa de que quando começaram, os efeitos negativos ainda não eram divulgados como hoje. A mim, fumar suscita a mesma curiosidade que experimentar beber gasolina, quem sabe se não é bom? Estou disposto a pôr a minha saúde em causa para satisfazer a minha curiosidade? Claro que não!
Também já me vieram com a filosofia YOLO (You Only Live Once!) para justificar a experiência.
YOLO deve ser a desculpa mais invocada de sempre antes de se proceder a uma atitude parva. Nem faz sentido, se só vivemos uma vez (e é curioso pensar que até muitos religiosos que acreditam na vida depois da morte também o dizem), não seria mais sensato tomar medidas para garantir que essa única vida é mais extensa e com melhor saúde? Para quê utilizá-la para cometer loucuras e excessos?
Depois há toda uma panóplia de desculpas esfarrapadas que já ouvi da boca de fumadores.
Lembro-me quando estava no secundário, uma colega minha que fumava imenso dizia que os efeitos do tabaco eram contrabalançados por ela beber muito leite, que actuava como desintoxicante. Gostava de saber em que estudos científicos de publicações credíveis é que ela se baseou para afirmar tal coisa. E já agora, se antes de iniciar o seu hábito fumador foi investigar essas escapatórias aos maus efeitos do tabaco e por isso decidiu começar. Claro que ela não fez nada disso. Das duas uma, ou ela acredita piamente nisto que alguém lhe disse e usa-o para se auto-desculpar ou é só para se justificar perante as outras pessoas.
Depois há os que dizem só fumar "socialmente", que é como quem diz, só quando estão com outros fumadores. Pois, como sabem, é humanamente impossível manter uma conversação com alguém que esteja a fumar se não estivermos também a fumar! Além de ser uma premissa ridícula, actua como porta para o tabagismo puro e duro. As pessoas que dizem fumar socialmente querem é no fundo fumar, mas como sabem que faz mal ou que pode ser socialmente mal visto (a menos claro no meio de outros fumadores) inventaram esta circunstância como justificação.
A minha conclusão, fumar, ou melhor, iniciar o hábito é irracional. Mas isto não é novidade nenhuma. Já pensaram, os pacotes de cigarros devem ser dos únicos produtos de consumo que se dão ao luxo de pedir às pessoas que não os consumam na própria embalagem! Acham que os produtores e distribuidores de tabaco permitiriam isso se não soubessem que os seus clientes não seriam dissuadidos com "Fumar Mata!"? Claro que não! Eles sabem que o ser humano, no seu global, não é um ser racional mas emocional. Se houver algum sentimento que o justifique, porão a sua saúde em risco, especialmente se este risco não for imediato (dá aquela sensação de "se as coisas estiverem mesmo mal, paro").
Podem acusar-me de tentar viver de uma forma demasiado racionalista, mas na minha forma de ver as coisas, nunca me passou pela cabeça experimentar fumar pelos seguintes motivos:
Supúnhamos que tenho curiosidade e experimento fumar. Um de dois cenários poderão ocorrer:
Primeiro cenário, não gosto da experiência e decido nunca mais o fazer. Aqui, não ganhei nem perdi nada, não me foi prejudicial, mas também, foi como se não tivesse experimentado.
Segundo cenário, gostei da experiência e gostaria de repetir. Daqui há duas vias por onde posso seguir:
1) Torno-me fumador. Ou seja, conscientemente optei por um vício que comprovadamente é prejudicial à saúde e longevidade, me custará imenso dinheiro que poderia investir noutras coisas e que será preciso uma imensa força de vontade e trabalho se alguma vez quiser quebrar o vício para voltar ao ponto onde estou agora mesmo (embora com pior saúde). Péssima opção.
2) Sabendo dos problemas associados, decido não fumar apesar de ter gostado. Agora viverei sempre com a tentação de voltar a fumar, nomeadamente quando estou rodeado de outros fumadores que não hesitariam em me oferecer um cigarro. Será uma espécie de martírio psicológico diário pois sei que gostaria de o fazer. Ter experimentado foi a acha na fogueira.
Não entendo as pessoas, especialmente os adolescentes, que alegam curiosidade para experimentarem quando sabem que é prejudicial à saúde. Os mais velhos ainda têm a desculpa de que quando começaram, os efeitos negativos ainda não eram divulgados como hoje. A mim, fumar suscita a mesma curiosidade que experimentar beber gasolina, quem sabe se não é bom? Estou disposto a pôr a minha saúde em causa para satisfazer a minha curiosidade? Claro que não!
Também já me vieram com a filosofia YOLO (You Only Live Once!) para justificar a experiência.
YOLO deve ser a desculpa mais invocada de sempre antes de se proceder a uma atitude parva. Nem faz sentido, se só vivemos uma vez (e é curioso pensar que até muitos religiosos que acreditam na vida depois da morte também o dizem), não seria mais sensato tomar medidas para garantir que essa única vida é mais extensa e com melhor saúde? Para quê utilizá-la para cometer loucuras e excessos?
Depois há toda uma panóplia de desculpas esfarrapadas que já ouvi da boca de fumadores.
Lembro-me quando estava no secundário, uma colega minha que fumava imenso dizia que os efeitos do tabaco eram contrabalançados por ela beber muito leite, que actuava como desintoxicante. Gostava de saber em que estudos científicos de publicações credíveis é que ela se baseou para afirmar tal coisa. E já agora, se antes de iniciar o seu hábito fumador foi investigar essas escapatórias aos maus efeitos do tabaco e por isso decidiu começar. Claro que ela não fez nada disso. Das duas uma, ou ela acredita piamente nisto que alguém lhe disse e usa-o para se auto-desculpar ou é só para se justificar perante as outras pessoas.
Depois há os que dizem só fumar "socialmente", que é como quem diz, só quando estão com outros fumadores. Pois, como sabem, é humanamente impossível manter uma conversação com alguém que esteja a fumar se não estivermos também a fumar! Além de ser uma premissa ridícula, actua como porta para o tabagismo puro e duro. As pessoas que dizem fumar socialmente querem é no fundo fumar, mas como sabem que faz mal ou que pode ser socialmente mal visto (a menos claro no meio de outros fumadores) inventaram esta circunstância como justificação.
A minha conclusão, fumar, ou melhor, iniciar o hábito é irracional. Mas isto não é novidade nenhuma. Já pensaram, os pacotes de cigarros devem ser dos únicos produtos de consumo que se dão ao luxo de pedir às pessoas que não os consumam na própria embalagem! Acham que os produtores e distribuidores de tabaco permitiriam isso se não soubessem que os seus clientes não seriam dissuadidos com "Fumar Mata!"? Claro que não! Eles sabem que o ser humano, no seu global, não é um ser racional mas emocional. Se houver algum sentimento que o justifique, porão a sua saúde em risco, especialmente se este risco não for imediato (dá aquela sensação de "se as coisas estiverem mesmo mal, paro").
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Incoerências
Recentemente, estava a passar em revista alguns livros da minha prateleira e ao cruzar-me com a bíblia, dei uma vista de olhos nas primeiras páginas.
Este meu exemplar, designada "a Bíblia para todos" foi editado em 2010 pela Loja da Bíblia Editorial (LBE) e a tradução foi realizada pela Sociedade Bíblica de Portugal. Recebeu também o selo de aprovação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e desde 1972 (ano do inicio da sua tradução, chegou finalmente ao público em 1993) já foi revista várias vezes. Numa das primeiras páginas o presidente da referida CEP, Dom Jorge Ferreira da Costa Ortiga, afirma "Que através desta tradução (...) possamos todos entender melhor a mensagem de Deus (...)".
Pois bem, perante uma edição tão bem referenciada, não terei de temer que esteja a representar mal o que os crentes defendem ao citar esta obra como fonte. Certo?
É que, felizmente, esta edição tem notas introdutórias antes de cada livro e uma extensa introdução à própria bíblia que, confesso, nunca tinha lido. Quando a adquiri, passei imediatamente ao texto propriamente dito. Assim, pareceu-me que o mais correcto seria ler a introdução prévia, não fosse esta mudar a minha percepção da forma como os crentes interpretam o seu livro sagrado.
Na introdução geral pode ler-se: "Da primeira à última página da Bíblia o leitor encontra Deus a agir pela palavra e a comunicar com o ser humano. Daí que os crentes sintam a necessidade de ler a Bíblia (e acrescento eu, é pena que muitos não o façam) e de transmitir a sua mensagem aos outros. Os cristãos consideram a Bíblia um conjunto de escritos inspirados, isto é, escritos sob a influência de especial desígnio e assistência de Deus."
Portanto, acho que não estarei a cometer um acto precipitado se daqui concluir apenas isto: os crentes acreditam que o que está contido na Bíblia é a mensagem de Deus. Até aqui tudo bem, certo?
Na página seguinte está escrito: "A Bíblia não surgiu repentinamente. É um conjunto de escritos cuja composição e aparecimento se situam ao longo de um milénio, numa determinada região, a Palestina, e países vizinhos."
Não é estranho que Deus, o criador do universo, da Terra e de todos os seus habitantes só tenha decidido transmitir a sua mensagem numa área tão restrita do planeta, quando os seres humanos, que presumivelmente só teriam a ganhar com essa mensagem, já se tinham disseminado por todo o mundo? Não me parece muito lógico, mas ainda não se pode dizer que é incompatível, por isso vamos continuar.
Mais umas páginas à frente, na introdução ao antigo testamento, lê-se: "O texto do antigo testamento tem uma longa história com muitos aspectos ainda ignorados. Não dispomos de nenhum texto original; temos apenas manuscritos com cópias completas ou parciais. O manuscrito hebraico mais antigo é do principio do século XI d. C. (...) Os massoretas, para facilitar a sua leitura, acrescentaram ao texo vários sinais (...) Assim, fixaram definitivamente a forma e a interpretação do texto. (...) Antes dos massoretas, o texto hebraico tinha sido objecto de uma revisão de um grupo de rabinos. Constando que existiam diferenças entre os manuscritos de então, os rabinos decidiram estabelecer um texto oficial e mandaram destruir os exemplares não conformes ao texto estabelecido. (...) A partir de 1947 foram (...) descobertos alguns textos muito antigos. (...) Com a ajuda destes testemunhos pode-se propor eventuais correcções para algumas passagens que, no texto hebraico, poderiam ter sido incorrectamente transmitidas."
Se isto é a história da Bíblia contada pelos crentes, imaginem o que pode pensar um ateu como eu ?! Deus é muito pouco inteligente! Se ele tem realmente uma mensagem que quer transmitir à humanidade, quer me parecer que fazê-lo através de textos que já foram escritos e rescritos, interpretados e alterados ao longo de séculos por autores anónimos sem que tenham sobrevivido originais será das maneiras menos eficazes que consigo imaginar. Um Deus inteligente aperceber-se-ia disto, e com certeza com todo o seu poder poderia facilmente transmitir a sua mensagem de uma forma clara, de maneira que ninguém tivesse a mínima dúvida. Mas nem os seus autores, supostamente divinamente inspirados, conseguem concordar entre si qual é a verdadeira mensagem de Deus.
Há várias interpretações que se podem fazer deste facto: ou Deus não sabe o que está a fazer, ou sabe mas gosta de ver os humanos a debater-se durante milénios, ou está-se maribando para nós, ou, a mais simples de todas e que responde na perfeição à questão, não existe.
Este meu exemplar, designada "a Bíblia para todos" foi editado em 2010 pela Loja da Bíblia Editorial (LBE) e a tradução foi realizada pela Sociedade Bíblica de Portugal. Recebeu também o selo de aprovação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e desde 1972 (ano do inicio da sua tradução, chegou finalmente ao público em 1993) já foi revista várias vezes. Numa das primeiras páginas o presidente da referida CEP, Dom Jorge Ferreira da Costa Ortiga, afirma "Que através desta tradução (...) possamos todos entender melhor a mensagem de Deus (...)".
Pois bem, perante uma edição tão bem referenciada, não terei de temer que esteja a representar mal o que os crentes defendem ao citar esta obra como fonte. Certo?
É que, felizmente, esta edição tem notas introdutórias antes de cada livro e uma extensa introdução à própria bíblia que, confesso, nunca tinha lido. Quando a adquiri, passei imediatamente ao texto propriamente dito. Assim, pareceu-me que o mais correcto seria ler a introdução prévia, não fosse esta mudar a minha percepção da forma como os crentes interpretam o seu livro sagrado.
Na introdução geral pode ler-se: "Da primeira à última página da Bíblia o leitor encontra Deus a agir pela palavra e a comunicar com o ser humano. Daí que os crentes sintam a necessidade de ler a Bíblia (e acrescento eu, é pena que muitos não o façam) e de transmitir a sua mensagem aos outros. Os cristãos consideram a Bíblia um conjunto de escritos inspirados, isto é, escritos sob a influência de especial desígnio e assistência de Deus."
Portanto, acho que não estarei a cometer um acto precipitado se daqui concluir apenas isto: os crentes acreditam que o que está contido na Bíblia é a mensagem de Deus. Até aqui tudo bem, certo?
Na página seguinte está escrito: "A Bíblia não surgiu repentinamente. É um conjunto de escritos cuja composição e aparecimento se situam ao longo de um milénio, numa determinada região, a Palestina, e países vizinhos."
Não é estranho que Deus, o criador do universo, da Terra e de todos os seus habitantes só tenha decidido transmitir a sua mensagem numa área tão restrita do planeta, quando os seres humanos, que presumivelmente só teriam a ganhar com essa mensagem, já se tinham disseminado por todo o mundo? Não me parece muito lógico, mas ainda não se pode dizer que é incompatível, por isso vamos continuar.
Mais umas páginas à frente, na introdução ao antigo testamento, lê-se: "O texto do antigo testamento tem uma longa história com muitos aspectos ainda ignorados. Não dispomos de nenhum texto original; temos apenas manuscritos com cópias completas ou parciais. O manuscrito hebraico mais antigo é do principio do século XI d. C. (...) Os massoretas, para facilitar a sua leitura, acrescentaram ao texo vários sinais (...) Assim, fixaram definitivamente a forma e a interpretação do texto. (...) Antes dos massoretas, o texto hebraico tinha sido objecto de uma revisão de um grupo de rabinos. Constando que existiam diferenças entre os manuscritos de então, os rabinos decidiram estabelecer um texto oficial e mandaram destruir os exemplares não conformes ao texto estabelecido. (...) A partir de 1947 foram (...) descobertos alguns textos muito antigos. (...) Com a ajuda destes testemunhos pode-se propor eventuais correcções para algumas passagens que, no texto hebraico, poderiam ter sido incorrectamente transmitidas."
Se isto é a história da Bíblia contada pelos crentes, imaginem o que pode pensar um ateu como eu ?! Deus é muito pouco inteligente! Se ele tem realmente uma mensagem que quer transmitir à humanidade, quer me parecer que fazê-lo através de textos que já foram escritos e rescritos, interpretados e alterados ao longo de séculos por autores anónimos sem que tenham sobrevivido originais será das maneiras menos eficazes que consigo imaginar. Um Deus inteligente aperceber-se-ia disto, e com certeza com todo o seu poder poderia facilmente transmitir a sua mensagem de uma forma clara, de maneira que ninguém tivesse a mínima dúvida. Mas nem os seus autores, supostamente divinamente inspirados, conseguem concordar entre si qual é a verdadeira mensagem de Deus.
Há várias interpretações que se podem fazer deste facto: ou Deus não sabe o que está a fazer, ou sabe mas gosta de ver os humanos a debater-se durante milénios, ou está-se maribando para nós, ou, a mais simples de todas e que responde na perfeição à questão, não existe.
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