Recentemente terminei a leitura de uma colecção das mais famosas obras de Júlio Verne, por muitos considerado a pai da ficção científica. A colecção é composta por oito livros, numerados da seguinte forma:
1 - Cinco Semanas em Balão
2 - Volta ao Mundo em 80 Dias
3 - Da Terra à Lua
4 - Viagem ao Centro da Terra
5 - O Segredo da Ilha
6 - 20.000 Léguas Submarinas
7 - A Volta da Lua
8 - Os Náufragos do Ar
Todos os livros contam histórias de viagens extraordinárias e, gostando mais de uns que de outros, achei a experiência global muito satisfatória. Agora, não posso deixar de notar que quem de certeza não leu estas obras foram os responsáveis pela edição desta colecção! Até ao quarto livro vai tudo bem, mas daí para a frente a ordem está completamente errada.
O meu principal problema é com "O Segredo da Ilha" e "Os Náufragos do Ar".
No fundo, estes livros não existem, são ambos parte do mesmo livro, A Ilha Misteriosa, que, de resto, até surge acima do título na primeira página de ambos os livros, embora não seja indicado nem na capa nem na contracapa. Os editores decidiram separar a obra original, A Ilha Misteriosa, em dois volumes, cada um com o seu título inventado. Talvez o tenham feito para que todos os livros da colecção tivessem um tamanho semelhante, entre 200 a 300 páginas. Até aqui, nada a opor.
O meu problema é que no caso destas duas partes da história de "A Ilha Misteriosa", publicaram a segunda parte, ou seja a conclusão, antes da primeira parte. Para uma pessoa que não conheça a obra, como eu não conhecia, e leu primeiro "O Segredo da Ilha" antes de "Os Náufragos do Ar" levantam-se uma série de problemas.
Se se tratasse de uma prequela como O Hobbit em relação ao Senhor dos Anéis, ou os episódios I, II e III de Star Wars, não haveria problema nenhum em publicar primeiro a segunda parte, mas aqui não faz sentido.
Como os nomes "A Ilha Misteriosa" e "O Segredo da Ilha" indicam, a história revolve numa ilha que possui um segredo ou mistério que o leitor vai descobrir. A revelação é de facto curiosa e interessante mas surge no final do Segredo da Ilha. Qual é o interesse de ler os Náufragos do Ar quando já sabemos o segredo que está na alma da história? Só se for para conhecer melhor as personagens pois estas são-nos apresentadas muito melhor, como seria de esperar no principio de um livro. No Segredo da Ilha (N.º 5) praticamente não nos dizem quem são os protagonistas, simplesmente assumem que nós já sabemos como se tivéssemos lido os Náufragos do Ar (N.º 8). Isto já para não dizer que a história da Ilha Misteriosa cruza-se com a de 20.000 Léguas Submarinas e que por isso, também deveria ter sido publicada depois.
Mas afinal, qual foi a editora que publicou isto? Nada mais, nada menos que uma parceria entre o Montepio Geral e o Correio da Manhã! Porque não me surpreende que o CM tenha feito asneira?
Até consigo imaginar como é que um diálogo entre os responsáveis pode ter ocorrido:
- Eh, ó chefe, tive uma ideia para vendermos mais jornais. Vamos publicar uma colecção de livros de um autor famoso, tipo Júlio Verne.
- Boa ideia, então e já sabes quais vão ser os livros?
- Sim, só que há alguns problemas.
- Então?
- Há aqui dois ou três que são muito famosos que as pessoas vão querer e por isso há o risco de comprarem só esses em vez de fazerem a colecção.
- Oh, então mete um desses no início para aguçar o apetite (Volta ao Mundo em 80 Dias) e mete os outros lá mais pró meio e fim (20.000 Léguas Submarinas).
- Parece-me bem. Outra coisa, há aqui um que é bem maior que os outros. Não fica muito bem termos alguns que nem às 180 páginas chegam e depois outro com mais de 400.
- Opá, divide isso ao meio, inventa uns títulos intermédios e pronto.
- Ok.
E é isto. A colecção já tem mais de dez anos, não faz sentido refilar com ninguém agora, mas isto é algo a meu ver que demonstra incompetência ainda pior que quando a Editorial Presença publicou livros do Harry Potter em que num o título na lombada estava virado para a esquerda e noutro para a direita.
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