Há algum tempo, numa aula de uma cadeira de Mestrado, falávamos sobre os efeitos da poluição atmosférica na saúde humana. Palavra puxa palavra e começámos a falar sobre tabagismo. Acontece que eu não fumo, mas o facto de nunca o ter experimentado nem me suscitar a mínima curiosidade parece ter sido encarado com estranheza por alguns dos meus colegas.
Podem acusar-me de tentar viver de uma forma demasiado racionalista, mas na minha forma de ver as coisas, nunca me passou pela cabeça experimentar fumar pelos seguintes motivos:
Supúnhamos que tenho curiosidade e experimento fumar. Um de dois cenários poderão ocorrer:
Primeiro cenário, não gosto da experiência e decido nunca mais o fazer. Aqui, não ganhei nem perdi nada, não me foi prejudicial, mas também, foi como se não tivesse experimentado.
Segundo cenário, gostei da experiência e gostaria de repetir. Daqui há duas vias por onde posso seguir:
1) Torno-me fumador. Ou seja, conscientemente optei por um vício que comprovadamente é prejudicial à saúde e longevidade, me custará imenso dinheiro que poderia investir noutras coisas e que será preciso uma imensa força de vontade e trabalho se alguma vez quiser quebrar o vício para voltar ao ponto onde estou agora mesmo (embora com pior saúde). Péssima opção.
2) Sabendo dos problemas associados, decido não fumar apesar de ter gostado. Agora viverei sempre com a tentação de voltar a fumar, nomeadamente quando estou rodeado de outros fumadores que não hesitariam em me oferecer um cigarro. Será uma espécie de martírio psicológico diário pois sei que gostaria de o fazer. Ter experimentado foi a acha na fogueira.
Não entendo as pessoas, especialmente os adolescentes, que alegam curiosidade para experimentarem quando sabem que é prejudicial à saúde. Os mais velhos ainda têm a desculpa de que quando começaram, os efeitos negativos ainda não eram divulgados como hoje. A mim, fumar suscita a mesma curiosidade que experimentar beber gasolina, quem sabe se não é bom? Estou disposto a pôr a minha saúde em causa para satisfazer a minha curiosidade? Claro que não!
Também já me vieram com a filosofia YOLO (You Only Live Once!) para justificar a experiência.
YOLO deve ser a desculpa mais invocada de sempre antes de se proceder a uma atitude parva. Nem faz sentido, se só vivemos uma vez (e é curioso pensar que até muitos religiosos que acreditam na vida depois da morte também o dizem), não seria mais sensato tomar medidas para garantir que essa única vida é mais extensa e com melhor saúde? Para quê utilizá-la para cometer loucuras e excessos?
Depois há toda uma panóplia de desculpas esfarrapadas que já ouvi da boca de fumadores.
Lembro-me quando estava no secundário, uma colega minha que fumava imenso dizia que os efeitos do tabaco eram contrabalançados por ela beber muito leite, que actuava como desintoxicante. Gostava de saber em que estudos científicos de publicações credíveis é que ela se baseou para afirmar tal coisa. E já agora, se antes de iniciar o seu hábito fumador foi investigar essas escapatórias aos maus efeitos do tabaco e por isso decidiu começar. Claro que ela não fez nada disso. Das duas uma, ou ela acredita piamente nisto que alguém lhe disse e usa-o para se auto-desculpar ou é só para se justificar perante as outras pessoas.
Depois há os que dizem só fumar "socialmente", que é como quem diz, só quando estão com outros fumadores. Pois, como sabem, é humanamente impossível manter uma conversação com alguém que esteja a fumar se não estivermos também a fumar! Além de ser uma premissa ridícula, actua como porta para o tabagismo puro e duro. As pessoas que dizem fumar socialmente querem é no fundo fumar, mas como sabem que faz mal ou que pode ser socialmente mal visto (a menos claro no meio de outros fumadores) inventaram esta circunstância como justificação.
A minha conclusão, fumar, ou melhor, iniciar o hábito é irracional. Mas isto não é novidade nenhuma. Já pensaram, os pacotes de cigarros devem ser dos únicos produtos de consumo que se dão ao luxo de pedir às pessoas que não os consumam na própria embalagem! Acham que os produtores e distribuidores de tabaco permitiriam isso se não soubessem que os seus clientes não seriam dissuadidos com "Fumar Mata!"? Claro que não! Eles sabem que o ser humano, no seu global, não é um ser racional mas emocional. Se houver algum sentimento que o justifique, porão a sua saúde em risco, especialmente se este risco não for imediato (dá aquela sensação de "se as coisas estiverem mesmo mal, paro").
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